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Acabar para recomeçar

Foi assim que a humanidade se organizou: em ciclos. Início, meio e fim pautam a vida civilizada do ser consciente. Na verdade, estes três estágios estão presentes na vida de qualquer ser vivo. No ser humano a diferença é a presença da consciência. Chega um momento na vida em que o ser humano adquire a sua consciência de vida, ou seja, ele se reconhece como um ser que teve um início, planeja o meio de sua vida e se prepara para o seu fim. É o ápice da consciência existencial, admitir-se finito, preparar-se para o fim de seu ciclo. Tudo que cerca a vida humana compõe-se em ciclos. Basta prestar atenção.

Ontem foi dos nossos ascendentes, hoje é seu e amanhã dos descendentes. O ciclo da vida propõe esta troca de protagonismo. Algumas coisas vão, para que outras venham. Isso é natural, a vida é renovável, o mundo só existe até hoje porque foi se renovando. Ele não é o mesmo desde a criação, seja ela divina ou científica. Concordamos que um dia ele não existiu?

Depois que se adquire a consciência da finitude, tudo passa a fazer mais sentido. Por que se apegar a algo que não será eterno? Tudo passa. Já foi dito por um sábio que “não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe”, ou seja, por melhor ou pior, terá um fim.

Assim, fica mais fácil compreender a morte. Tudo que é vivo morre. É a lei da vida. Uma lei paradoxal, porque para bem viver, a morte tem que compreender. Tudo ganha outra valoração quando da morte temos a certeza, ou melhor, a consciência que nos leva à certeza incontestável da vida: vamos morrer, todos! É o que nos nivela na existência. Ela, a morte, deixa tudo raso. O fim é para qualquer um, não importa como começou nem como conduziu a vida. Quando ela chegar, o que você vai deixar? Seu nome será lembrado, ou não passará da insignificância que deu à própria vida? Você já parou para pensar que se não marcar sua existência de maneira contundente, ou seja, algo que permaneça no mundo, em algumas gerações você não existirá sequer em vaga lembrança?

Plante uma árvore, escreva um livro, tenha um filho!

Sempre foi este o jargão para o combate à nossa insignificância no mundo. Qualquer imbecil planta uma árvore. Aliás, os passarinhos que defecam as sementes por aí são até melhores que nós nesta tarefa. Um livro, puta que o pariu, qualquer um escreve um livro hoje. Já viu como está o mercado literário? O que predomina: qualidade ou rentabilidade? Sim, porque um livro que vende muito não significa que tenha qualidade literária. Ter um filho não é fácil e nem garantia de que ele vá preservar a sua memória. Experimenta não ser um bom pai ou mãe para ver se ele vai ao menos falar de você para os netos.

E quantos não passaram por esse mundo e são como se nunca tivessem existido. Sem qualquer registro, obra ou contribuição social de relevância. A terra existe há aproximadamente 4,5 bilhões de anos. O tempo de vida médio de um ser humano é de 75 anos. Eu vou me preocupar com os que me enchem o saco? Eu vou esquentar a cabeça com os problemas? Acha que vou aturar gente chata no meu pé?Ah, eu quero é de vez em quando aplicar este acróstico.


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